
Extinção da espécie
Dora Kraemer
Cabeça no travesseiro na solidão do quarto escuro, cada governador, parlamentar, prefeito ou petista cheio de votos talvez se pergunte por que todos são preteridos pelo presidente Luiz Inácio da Silva na escolha da candidatura do PT à Presidência da República em 2010.O que a ministra Dilma Rousseff tem que eles não têm, a não ser uma vida desprovida de relação com o eleitorado contra carreiras sobejamente testadas, e muitas aprovadas, nas urnas?Se a curiosidade não lhes aguça os espíritos, significa que estão anestesiados. Se a dúvida lhes assola as almas, mas não ousa dizer seu nome, é mais grave: sinal de que estão com medo de confrontar, desagradar ao chefe e, com isso, perder a chance de um dia virem a merecer dele uma unção semelhante. Em qualquer hipótese, o que se tem é um partido de um homem só rodeado de satélites por todos os lados. Não é uma novidade na estrutura de funcionamento do PT, cuja presença País afora e representação no Congresso cresceram sustentadas nas cinco candidaturas de Lula à Presidência da República.A singularidade agora é que Lula não pode ser candidato nem dispõe do poder de conduzir as escolhas do eleitor ao molde de sua popularidade. Constatação singela, óbvia e previsível. Natural, portanto, teria sido o partido, sob a condução de Lula, ter se preparado nos últimos anos para a passagem do bastão. Não a um clone do líder. Este é único em suas características, como de resto é peculiar cada ser humano. Mas a alguém com atributos eleitorais mínimos.
No PT está cheio de gente assim. Tanto está que é com essas pessoas que o partido vem assumindo nos últimos 20 anos o comando de Estados, de um número cada vez maior de prefeituras, aumentando suas bancadas na Câmara, no Senado, nas assembléias legislativas, nas câmaras municipais.Há lideranças para todos os gostos: locais e nacionais. Nenhuma delas, contudo, jamais recebeu o estímulo do investimento como aposta futura do PT. Os poucos que tentaram anteriormente, ou saíram do partido ou ganharam vaga no limbo. Dos três que já tentaram abertamente disputar a legenda para presidente, Cristovam Buarque está fora, no PDT, Eduardo Suplicy não passa nas estreladas goelas e Tarso Genro fica limitado às fronteiras do Rio Grande do Sul.Há muito outros - sem contar os dizimados por escândalos - que poderiam ter cumprido esse papel se houvesse empenho. Não havendo e isso, em tese, contrariando os interesses do partido, só pode haver uma explicação para Lula escolher uma candidata sem-votos e ignorar uma plêiade de companheiros com traquejo e patrimônio eleitorais: impedir o crescimento de alguma liderança que possa vir a lhe fazer sombra. Ou pior, se revelar bem melhor.
Um comentário:
O PT (partido terrorista) foi cevando o Lula e o Lula devorou o PT.
São os paradoxos da vida...
Correa sjcampos sp
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