terça-feira, 11 de novembro de 2008

CASE OU MORRA!


Situação peculiar do PSB. Enquanto o PMDB diz procurar candidato, o PT olha desconfiado para Dilma Roussef e o PSDB espera o que pode sair do impasse entre José Serra e Aécio Neves, seu pré-candidato, Ciro Gomes, parece procurar um caminho alternativo aos planos de candidatura a presidente que seu partido e aliados de bloco (PC do B e PDT) traçam para ele.

O deputado cearense, více-lider na pesquisas presidenciais para 2010, anda sumido da mídia depois de passar as eleições municipais despercebido. Talvez a descrição venha para não chamar a atenção para o fracasso com a candidatura de Patrícia Saboya em Fortaleza. Mas deve haver algo também com um dilema que Ciro Gomes deve estar vivendo.

O pré-candidato do bloquinho (apelido dado ao bloco PSB-PDT –PC do B), para infelicidade de seus apoiadores, aparenta não olhar com tanta sede em relação ao Planalto para 2010. O deputado sabe que o PT não abrirá mão de uma cabeça de chapa para o próximo pleito presidencial. Sem o apoio petista, seu PSB e aliados PC do B e PDT não possuem uma máquina capaz de enfrentar com sucesso uma eleição presidencial.

Além disso, Ciro Gomes traz além de bons números nas pesquisas, uma forte rejeição de setores do sudeste e da mídia nacional ao seu nome. Seus destemperos nas eleições de 2002 parecem ainda estar frescos na memória de muitos eleitores. Por isso, talvez Ciro veja com muito melhores olhos uma candidatura a vice em uma chapa forte. Nessa situação, ele poderia aparar as arestas com os que hoje o vêem com desconfiança e ganhar “musculatura” para 2014 ou 2018. Inclusive, Ciro é o único dos pré-candidatos que já assumiu várias vezes não ter restrições em ser candidato a vice em 2010. (veja reportagem abaixo)

A dificuldade está em “fisgar o noivo”. O PT, principalmente após as eleições municipais, está claramente focado em atrair o fortalecido PMDB para sua chapa. Caso esse arranjo dê certo, não restam muitas alternativas a Ciro e ao bloquinho (PSB-PDT-PC do B).

Já foi aventada até pelo próprio pré-candidato cearense, a possibilidade de uma composição com Aécio Neves. Porém, a ida do governador mineiro para o PMDB é uma distante realidade. Na outra opção do neto de Tancredo, eventual candidatura pelo PSDB, a inimizade de Ciro com Serra, FHC e outros cardeais tucanos condenam a formação da chapa Aécio-Ciro.

Pelo lado do PSB, uma candidatura presidencial, mesmo sem grandes chances de vitórias, pode ser uma boa hipótese. Um candidato com 20% dos votos já é capaz de alavancar o partido nas eleições para governos estaduais, senado e câmara federal e dar o salto que o partido precisa para se tornar definitivamente um dos grandes do sistema político brasileiro.

Outra cenário que os líderes pessedistas e aliados vislumbram com muita esperança é o fracasso do candidato petista, seja Dilma ou outro. Nesse caso, Ciro Gomes poderia unificar boa parte da base aliada do Governo Lula contra o candidato da oposição. E o PT, depois de ver sua tentativa frustrada sem decolar nas pesquisas, apostaria tudo no candidato do bloquinho para barrar uma volta do bloco PSDB-DEM ao Planalto.

Na verdade, tudo depende dos movimentos do PMDB. Ciro deverá passar os próximos meses “secando” a chapa PT-PMDB e à espera que, no caso de algo der errado, estará na porta da igreja à espera de Dilma Roussef para o jogo de 2010. Se isso não ocorrer, depositará todas suas fichas no naufrágio do PT, para que ele possa ser o único representante governista capaz de manter o Planalto sob a órbita petista.

Segue abaixo reportagem do Valor de Raquel Ulhoa sobre o assunto:

PSB tenta revigorar candidatura Ciro
Raquel Ulhôa

O PSB busca formas de revigorar a pré-candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência da República, para fortalecer o projeto nacional do partido e recolocar um nome da base aliada na mídia e nas articulações políticas - espaço hoje tomado principalmente pelas duas principais opções da oposição, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), ambos do PSDB.

O secretário-geral do PSB, senador Renato Casagrande (ES), avalia que há uma "escassez de candidaturas" a presidente e, nesse cenário, os partidos que dão sustentação ao governo Luiz Inácio Lula da Silva não podem abrir mão de nenhum dos seus concorrentes em potencial: Ciro e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), do PT. "Há déficit de candidaturas. O PMDB não tem candidato. Há Serra ou Aécio, Dilma e Ciro. Quem tem dois candidatos, terá ao menos um. Quem tem apenas um, pode não ter nenhum mais à frente. Não se pode descartar candidaturas. Temos de reenergizar o Ciro", diz.

Segundo ele, preservar as duas opções governistas pode ser importante para a disputa com a oposição em 2010. O senador deixa claro, no entanto, que o PSB não tem compromisso de estar atrelado a uma candidatura petista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não queremos nos afastar do governo. Queremos que o governo tenha sucesso até o fim. Agora, em 2010, não temos compromisso com ninguém", diz.

Depois das eleições municipais, Ciro deu uma mergulhada, por uma decisão pessoal. Anda sumido da Câmara e pouco tem se manifestado sobre a crise financeira global, embora a economia sempre tenha sido um dos seus assuntos preferidos. "Quem pretende ser candidato tem que ter comportamento de candidato", diz Casagrande. Para ele, na questão da crise, por exemplo, Ciro precisa ser protagonista, opinar mais.

O partido espera que Ciro comece a se movimentar mais, dentro e fora do Congresso, aproximando-se de possíveis aliados no projeto de conquistar a Presidência em 2010. "Não queremos Ciro como candidato do bloco (o chamado "bloquinho", formado por PDT, PCdoB e PSB). Queremos o Ciro como alternativa dos partidos da base do governo", afirma o senador, incluindo o PT e o PMDB no leque de alianças que podem estar juntas em 2010.

Como não haverá eleições em 2009, o PSB quer aproveitar o ano para debates internos e busca de aliados. O primeiro passo é superar quaisquer resquícios de arranhões, deixados pela disputa eleitoral, com os parceiros do "bloquinho". A maior divergência ocorreu em Belo Horizonte, onde o PSB concorreu com Márcio Lacerda - apoiado por Aécio e pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) - e o PCdoB, que lançou Jô Moraes.

Depois, buscar estabelecer relações institucionais com todos os partidos da base - aí incluídos PT e PMDB - para tentar construir a viabilidade eleitoral da candidatura de Ciro, nome da base aliada que hoje aparece com mais chances nas pesquisas de intenção de voto - talvez por já ter disputado a Presidência duas vezes.

o contrário do deputado cearense, que admite disputar tanto a presidência quanto a vice-presidência - em chapa de Dilma ou de Aécio -, Casagrande afasta essa possibilidade, pelo menos por enquanto. "A vaga de vice ninguém disputa. Não existe campanha de vice", diz.

Do ponto de vista do partido, ter um candidato a presidente é importante para viabilizar um projeto nacional e favorecer o crescimento da legenda nos Estados. "Se Ciro não quiser, eu saio candidato", diz Casagrande. O presidente do partido, governador Eduardo Campos (PE), é candidato à reeleição e não a presidente, segundo o senador.

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