sábado, 8 de novembro de 2008

PISANDO EM OVOS




A definição do candidato do PSDB ao Planalto em 2010 deve esquentar o ambiente político nos próximos meses. O Governador José Serra (SP) e o Governador Aécio Neves (MG) prometem uma disputa com muitas reviravoltas, caneladas nos bastidores e manobras tanto estridentes quanto silenciosas.

Líder em todas as pesquisas para a presidência em 2010, Serra aponta como favorito à vaga tucana. Governador do principal estado da federação, experiente e com uma forte base de apoio, o paulista tem em 2010 talvez sua última chance de conquistar o lugar de Lula, sonho antigo do presidenciável tucano derrotado em 2002 pelo atual presidente.

Porém, nem tudo são flores para Serra. No xadrez de 2010, a participação de Aécio Neves em uma candidatura Serra é essencial para sua vitória. Aécio tem uma grande parte de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, fechada com seu nome. Em uma eleição que promete uma polarização entre um eixo tucano Sul – São Paulo e petista Nordeste – Norte, Minas Gerais pode ser o fiel da balança com seus mais de 10% dos eleitores nacionais. Por isso, Serra tenderá sempre a ser mais discreto e cuidadoso nesta batalha que promete ser longa e cheia de nuances. Afinal de contas, é assim que os favoritos costumam jogar. Serra tem mostrado que irá controlar seu impulso “trator” para não melindrar Aécio e ter o partido unido com ele em 2010. O paulista é “gato escaldado” de 2002, quando uma batalha com Tasso Jereissati pela candidatura tucana desuniu mortalmente o partido nas eleições conta o PT.

Serra tem ao seu lado o tempo e o status quo, além do medo do PSDB de ir contra as pesquisas como em 2006. Naquele ano, Alckmin ganhou a vaga na marra de um Serra melhor colocado nas pesquisas. O governador paulista possui ainda uma forte base de apoio que vai de boa parte do PIB nacional a muitos dos jornalistas mais influentes do Brasil. No campo partidário, a eleição do Kassab (DEM) em São Paulo trouxe outros importantes apoios. Os Democratas fecharam com seu nome para 2010 e a montagem da aliança atraiu grande parte do PMDB paulista para a “órbita” do tucano paulista.

Entretanto, com esta ampla base de apoio vem também uma legião de fervorosos desafetos espalhados por todo o cenário político. Muitos destes, frutos de ações vistas como truculentas e a partir da lendária obsessão de Serra pela Presidência. Talvez aí esteja o maior desafio: conseguir a vaga pelo PSDB sem reafirmar a fama de atropelar sem piedade os adversários.

Ao contrário de Serra, que traz parte do mais importante estado brasileiro consigo, o governador mineiro traz Minas Gerais praticamente fechada com ele (exceção ao PT de Patrus Ananias e setores do PMDB-MG). A imprensa e o empresariado mineiros estão ansiosos para retomar o papel de destaque que o estado sempre teve na história brasileira. Depois da presidência da câmara nacional e de seis anos de um governo extremamente bem avaliado, Aécio conseguiu a fama de bom gestor e político habilidoso, sempre com o discurso da conciliação entre PT e PSDB na ponta da língua.

O governador mineiro tentou trazer o discurso para a realidade na eleição em BH com a aliança ao PT de Fernando Pimentel. A tese se mostrou “furada” com desconfiança dos eleitores e poucos ecos concretos no resto do Brasil. Até agora o perfil de moderado opositor e próximo de Lula foi útil, mas a tendência agora é Aécio endurecer o discurso contra Lula e o PT, mirando para o público interno do PSDB.

Tanto Serra quanto Aécio devem, a partir de agora, ir contra a forma como sempre conduziram suas carreiras políticas. Serra, o favorito, tem que pisar em ovos com os aecistas, enquanto Aécio deve deixar de lado sua postura mais moderada e cuidadosa e partir para o ataque. Afinal, somente fatos novos podem virar o jogo interno dos tucanos.


Veja abaixo reportagem de Adriana Vasconcelos em O Globo que já mostra as diferanças táticas entre os dois governadores tucanos.








Aécio e Serra: dois estilos, um mesmo objetivo
Em visita ao Congresso, governador mineiro faz discurso empolgado, enquanto o paulista evita declarações políticas

Adriana Vasconcelos

Com o mesmo objetivo em mente, o de conquistar a vaga de candidato do PSDB à Presidência da República em 2010, mas com estilos diferentes, os dois pré-candidatos tucanos à sucessão do presidente Lula estiveram ontem à tarde no Congresso.

O governador de Minas, Aécio Neves, chegou primeiro e não disfarçou sua condição de candidato a candidato: fez discurso empolgado para a bancada tucana na Câmara, conversou com os presidentes das duas Casas do Legislativo, encontrou-se com dirigentes do PMDB e cumprimentava todo mundo que via pela frente.

Já Serra optou pela discrição: chegou pela garagem do Senado e deu preferência às conversas com os tucanos, embora tenha se encontrado, por acaso, com o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), seu candidato derrotado a prefeito do Rio.
Antes de ir para o Congresso, Aécio teve encontro reservado com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o líder da bancada peemedebista, deputado Henrique Eduardo Alves (RN). Temer não só reiterou o interesse do PMDB em ter o governador mineiro no partido, como pediu sua interferência junto à bancada tucana da Câmara em favor de sua candidatura à presidência da Casa.

No discurso na liderança do PSDB na Câmara, diante de uma platéia que se espremia para ouvi-lo, e nas inúmeras entrevistas no Congresso, Aécio deixou claro que seu interesse maior é o de permanecer no PSDB, onde adianta que não aceitará a idéia defendida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de compor uma chapa com Serra. - O PSDB saiu das eleições deste ano como principal alternativa de poder e pólo aglutinador da oposição. Nossas chances (para 2010) são enormes, se tivermos juízo e também desprendimento. Antes de qualquer definição, temos de ter um projeto para o país, uma bandeira nova, sem personalismo. Mas é claro que esse projeto passa pela nossa unidade - discursou.
Diante do clima de campanha, Aécio não hesitou em criticar duramente os tropeços do governo Lula no campo ético e condenou o aumento dos gastos do Executivo, especialmente com a criação, só este ano, de 85 mil cargos. E acrescentou: - A vitória do PSDB é vital para o país. Não podemos ter mais quatro ou oito anos do que está aí.

Quando Aécio iniciou seu périplo pelo Senado, onde conversaria com o presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN), foi discretamente avisado que Serra acabara de pedir também uma audiência. O governador paulista, porém, acabou mudando de trajeto. Passou primeiro no Ministério da Defesa e, só depois, foi ao Senado. Mas, em vez de ir ao encontro de Garibaldi, parou no gabinete do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e com isso acabou evitando o encontro com Aécio.

Serra saiu do gabinete de Guerra sem querer falar de política. Limitou-se a elogiar a aprovação ontem de um projeto de lei que regulamenta a videoconferência para interrogatório de réus presos. Depois, fez quase o mesmo percurso de Aécio: reuniu-se com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), e com os deputados tucanos.

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