terça-feira, 18 de novembro de 2008

DE CARDEAIS A BISPOS


O Partido dos Trabalhadores se formou e ganhou corpo unificado por um projeto: eleger sua figura mais importante, Lula, presidente do Brasil. Foi assim em 89, 94, 98. Em 2002, graças a uma ampliação da base eleitoral do partido com concessões a setores antes resistentes ao esquerdismo petista, o líder sindical finalmente atingia o grande objetivo petista.


Acreditava-se que seria naturalmente criado um sucessor. José Genoíno, José Dirceu, Aloísio Mercadante ou, mais tarde, Antônio Palocci eram os herdeiros naturais e as condições em determinado momento apontariam a quem Lula passaria a bandeira do comando do partido.


Mas vieram os escândalos do Governo Lula e um a um os vice-reis foram caindo pelo caminho. Com isso, quebrou-se uma espécie de equlíbrio entre Lula e o resto do partido. Turbinado pela sua enorme popularidade, o ex-operário presidente nunca foi tão inconteste nas linhas petistas como é hoje.


Muito disso, vem da consciência entre os cardeais petistas que lulismo inclui o PT e não o contrário. Sua base é mais ampla e atinge setores que ainda rejeitam o petismo. Os tais cardeais são no máximo bispos na doutrina de Lula.


Mas o ponto simbólico do domínio de Lula sobre o PT é a sua escolha pessoal de Dilma Roussef para candidata em 2010 (até o momento e por razões explicadas em http://rumoa2010.blogspot.com/2008/11/lula-e-dilma.html e http://rumoa2010.blogspot.com/2008/11/dilma-roussef-candidata-de-lula.html ). Vozes petistas contra a indicação não são ouvidas em nenhum lugar. Somente murmúrios...


Essa visão da hegemonia lulista fica mais concreta quando se vê que a ministra não é uma figura histórica do partido e com folha de serviços prestados ao PT. Tanto que se filiou em 1999 e nunca concorreu sequer a uma eleição. Sua indicação se deve a confiança única e exclusiva do presidente que passou a ter na ministra a sua operadora. É figura importante do governo. Nunca foi o mesmo do PT.


A base aliada do presidente pode chiar, espernear e até lançar candidatos alternativos, mas o PT vai com a vontade de Lula, qualquer seja sua escolha. O máximo que ouviremos serão choramingos velados. Ser petista hoje em dia é não ir contra seu líder máximo, o Presidente Lula. Que assim seja! - dirão os mais exaltados!.


Segue abaixo ótima reportagem de Dora Kraemer no Estadão sobre o assunto:



Extinção da espécie

Dora Kraemer



Cabeça no travesseiro na solidão do quarto escuro, cada governador, parlamentar, prefeito ou petista cheio de votos talvez se pergunte por que todos são preteridos pelo presidente Luiz Inácio da Silva na escolha da candidatura do PT à Presidência da República em 2010.O que a ministra Dilma Rousseff tem que eles não têm, a não ser uma vida desprovida de relação com o eleitorado contra carreiras sobejamente testadas, e muitas aprovadas, nas urnas?Se a curiosidade não lhes aguça os espíritos, significa que estão anestesiados. Se a dúvida lhes assola as almas, mas não ousa dizer seu nome, é mais grave: sinal de que estão com medo de confrontar, desagradar ao chefe e, com isso, perder a chance de um dia virem a merecer dele uma unção semelhante. Em qualquer hipótese, o que se tem é um partido de um homem só rodeado de satélites por todos os lados. Não é uma novidade na estrutura de funcionamento do PT, cuja presença País afora e representação no Congresso cresceram sustentadas nas cinco candidaturas de Lula à Presidência da República.A singularidade agora é que Lula não pode ser candidato nem dispõe do poder de conduzir as escolhas do eleitor ao molde de sua popularidade. Constatação singela, óbvia e previsível. Natural, portanto, teria sido o partido, sob a condução de Lula, ter se preparado nos últimos anos para a passagem do bastão. Não a um clone do líder. Este é único em suas características, como de resto é peculiar cada ser humano. Mas a alguém com atributos eleitorais mínimos.
No PT está cheio de gente assim. Tanto está que é com essas pessoas que o partido vem assumindo nos últimos 20 anos o comando de Estados, de um número cada vez maior de prefeituras, aumentando suas bancadas na Câmara, no Senado, nas assembléias legislativas, nas câmaras municipais.Há lideranças para todos os gostos: locais e nacionais. Nenhuma delas, contudo, jamais recebeu o estímulo do investimento como aposta futura do PT. Os poucos que tentaram anteriormente, ou saíram do partido ou ganharam vaga no limbo. Dos três que já tentaram abertamente disputar a legenda para presidente, Cristovam Buarque está fora, no PDT, Eduardo Suplicy não passa nas estreladas goelas e Tarso Genro fica limitado às fronteiras do Rio Grande do Sul.Há muito outros - sem contar os dizimados por escândalos - que poderiam ter cumprido esse papel se houvesse empenho. Não havendo e isso, em tese, contrariando os interesses do partido, só pode haver uma explicação para Lula escolher uma candidata sem-votos e ignorar uma plêiade de companheiros com traquejo e patrimônio eleitorais: impedir o crescimento de alguma liderança que possa vir a lhe fazer sombra. Ou pior, se revelar bem melhor.

Um comentário:

Anônimo disse...

O PT (partido terrorista) foi cevando o Lula e o Lula devorou o PT.
São os paradoxos da vida...

Correa sjcampos sp