sábado, 22 de novembro de 2008

RESPOSTAS DO NORTE (2)

Continua...

No estatuto do PT estão previstas prévias. Inclusive em 2002, Lula acabou candidato depois de vencer Eduardo Suplicy. Entretanto, é um modelo fechado em relação ao americano, onde a opinião pública em geral influencia de forma decisiva todo o processo.

Havendo prévias no PT, a pré-candidata de Lula, Dilma Roussef, poderia ganhar a legitimidade que necessita dentro do partido. Deixaria de a “ungida” do Presidente da República para se tornar a candidata escolhida democraticamente pelos petistas em processo amplo e democrático.

Mesmo que não surjam oponentes à sua pré-candidatura, Dilma ganharia corpo e identificação com militância e setores simpatizante do partido. Como não possui nenhuma experiência eleitoral, as prévias também funcionariam como aprendizado para a corrida rumo ao Planalto. Ganharia principalmente, jogo de cintura com todos os obstáculos que envolvem uma eleição: desde a lida diária com a imprensa, eleitores e políticos até a montagem de uma estrutura sólida para a campanha final.

Um bom exemplo de prévias com candidato único em que esse se fortaleceu e depois saiu vitorioso nas eleições é o de Nicolai Sarkosy, atual presidente francês.

Do lado tucano, vença o favorito José Serra ou o azarão Aécio Neves, prévias amplas seriam uma ótima para o PSDB e seus aliados DEM-PPS. Os pré-candidatos ganhariam projeção fora de suas fronteiras estaduais e afinariam o discurso para a corrida final em 2010. Serviria, acima de tudo, para dividir o palanque com Lula que vive em constante campanha eleitoral desde 2002.

Outro aspecto é que o PSDB teria oportunidade de envolver em sua discussão interna aqueles que não são tucanos, mas tem rejeição ao PT. Poderia também, no decorrer das disputas em cada estado, discutir as realidades locais e se aproximar de regiões como o Nordeste, onde o partido tem difícil penetração.

Enfim, catalisaria uma mobilização interna e externa que o PSDB não conseguiu em 2006 na escolha de Geraldo Alckmin perante a José Serra. Uma das razões da desmobilização foi a rejeição ao formato da definição do indicado. Tal decisão, foi conduzida por cardeais do partido, chamados na época de triunvirato (Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e Aécio Neves), e que reforçou no tucanato a imagem de um clube elitista onde as decisões vêm dos caciques e pouco importa a voz das ruas.

Alguns dirão que há o risco da disputa fratricida. Mas o medo do atrito, do desgaste, da desunião é covarde por si só. Faz parecer que o PSDB não quer expor seus candidatos.

O exemplo a ser mirado é mais uma vez o do Partido Democrata nos EUA, onde a disputa nunca havia sido tão dura e agressiva. Hillary, depois de derrotada por Obama, entrou de cabeça na campanha democrata ajudando a vencer os republicanos. Tanto é que tem sido cogitada sua indicação para Secretária de Estado (ver excelente reportagem abaixo). Além disso, apesar dos fortes ataques mútuos, mesmo a derrotada Hillary Clinton saiu “maior” do que entrou na batalha democrata.

Não se deve esperar que dois políticos profissionais como Serra ou Aécio vencidos em uma disputa justa e democrática irão fazer “biquinho” e cruzar os braços. Se o PSDB tem a expectativa que isso possa acontecer, somente confirmará a fama de ser ter herdado do PMDB, do qual é originário, a idéia de federação de interesses pessoais. Os projetos personalistas vencerão mais uma vez qualquer coerência partidária e ideológica.

Curioso o fato que os principais oponentes para 2010 tenham que fazer o mesmo dever de casa de pensar além do óbvio. Mas parece que ao invés de refletir sobre suas questões internas, PT e PSDB só têm olhos para sua “noiva” dos sonhos , o PMDB.

(Para mais informações sobre o PT e Dilma; PSDB, Serra e Aécio; procurar pelos nomes nos marcadores)

Segue abaixo ótima abordagem de Merval Pereira em O Globo sobre a indicação de Hillary para Secretária de Estado. (Continua...)

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