domingo, 2 de novembro de 2008

PISTA LIVRE NO PT


A pré-candidata do PT, Ministra Dilma Roussef, usou as eleições de 2008 para viajar o Brasil. O intuito era se tornar conhecida e estreitar laços com potenciais aliados para 2010. Além disso, com eventuais vitórias em Curitiba e Porto Alegre, pretendia fortalecer o partido pelo qual pretende se lançar candidata a presidente. O que surpreende na “contabilidade” final é a visão de que seu fortalecimento veio justamente de derrotas petistas.

Até o mais fanático petista sabia que Dilma , assim como se fosse José Serra ou Ciro Gomes, não teria força para mudar cenários locais consolidados como nas capitais paranaense e gaúcha. Mas a oposição não perdeu tempo e tentou pôr a pecha de “pé-frio” na ministra depois de derrotas dos candidatos petistas nestas cidades. Entretanto que importância isso tem para o jogo de 2010? Nenhum.

O que importa é que Dilma corre cada vez mais sozinha na “raia” petista. Depois de garantido o apoio do Presidente Lula, a ministra tenta agora convencer seu partido que pode ser uma candidata competitiva. Não deve haver grandes dificuldades, mesmo porque não há alternativas viáveis. Seus concorrentes mais importantes colheram fracassos nas últimas eleições

Marta Suplicy naufragou em São Paulo contra o bloco PSDB-DEM e é cada vez mais marcada por uma forte rejeição do eleitorado. O Governador da Bahia Jaques Wagner perdeu o duelo por Salvador contra o Ministro Gedel Vieira Lima e, conseqüentemente, qualquer chance de ser o escalado petista para a disputa da presidência da República. Já o Ministro Patrus Ananias conquistou importantes prefeituras no interior mineiro, depois de perder a batalha interna em BH contra o Prefeito Fernando Pimentel na discussão sobre a aproximação com o PSDB. Mas como viabilizar-se candidato em 2010, sem sequer controlar o PT mineiro?

Como o PT nunca abrirá mão de uma candidatura própria à presidência, Dilma é praticamente nome certo na campanha de 2010. Traz como cartão de visitas, o papel de “primeira-ministra” de um governo muito bem avaliado. Espera também usar os resultados do PAC, do qual Lula diz ser “a mãe”, como arma contra a posição de bons gestores de qualquer um dos dois pré-candidatos tucanos. Tem conseguido uma simpatia cada vez maior do empresariado brasileiro com sua imagem austera e controladora. Porém, existem duas pedras no sapato da ministra.

Primeiro vem o fato de nunca ter disputado qualquer eleição. A falta de experiência em eleições pode ser um importante fator em um pleito disputado como deve ser o de 2010. Ainda tem a falta de traquejo nos palanques e mesmo no dia-a-dia do jogo político.

O outro aspecto que pode influenciar na caminhada de 2010 são os efeitos da crise mundial na economia brasileira. Caso o bolso do brasileiro sofra poucas conseqüências, o Presidente Lula deve conseguir impor sua candidata internamente e ela chega com fôlego em 2010. Terá quase vaga garantida no segundo turno da eleição representando o governo e um presidente popular.

Já quanto mais forte a crise atingir a economia brasileira, mais indefinido fica o quadro. Lula perde força na decisão e o partido pode não querer a imposição de uma “cristã nova” como Dilma. Além disso, a escolha do candidato pode pender de um uma figura mais técnica para outra mais política. Mas o cenário mais temido pelo PT nem é esse. O pior dos mundos seria na falta de fôlego de um candidato petista, ter que engrossar o time de Ciro Gomes e do PSB na defesa do Governo Lula contra um forte candidato oposicionista.
Para dar "musculatura" a Dilma, Lula irá cada vez mais expor publicamente sua escolha. O bloco tem que ser colocado na rua para consolidá-la dentro da base aliada e não deixar os holofotes livres para José Serra e Aécio Neves. Com isso, a candidata ganha exposição na mídia, mas vira alvo dos descontentes internos com sua pré-candidatura e do bloco PSDB-DEM.

De toda forma, Dilma e a força de Lula não devem ser subestimadas. Caso o Brasil não sinta tanto os efeitos da crise, a ministra já terá um discurso de continuidade pronto para as eleições. Não custa lembrar que isso muitas vezes é mais valioso que um candidato “pronto”. Sem argumentos, é mais difícil convencer o eleitor para seguir o caminho da mudança.

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